15 de julho de 2009

Beleza, elegância e glamour na passarela!



Por que se fala tão pouco nas belíssimas mulheres negras brasileiras que fazem carreira brilhante no exterior? Por que somente Gisele Bündchen centraliza as atenções de fotógrafos e colunistas? É lastimável tal descaso que relega à mais injusta marginalização mulheres afro descendentes elegantes, chics e lindas. Aplausos só para a escandalosa e barraqueira Naoni Campbell.



As jovens negras brasileiras que pontificam nas passarelas internacionais não tiveram a sorte de serem descobertas aos 14 anos, quando passeavam com as amiguinhas no shopping center – como acontece com muitas top models. Nem sei dizer como elas conseguiram chegar ao topo da fama. Poucas vezes vi fotos delas ou referências ao sucesso que fazem fora do país. Nas semanas de moda do Rio e de São Paulo, elas estão sempre minorias com escassos holofotes sobre suas pessoas. Somente as modelos brasileiras brancas são nomeadas, badaladas e notícia nas revistas de moda.


Parece que as belas e talentosas negras não existem. No entanto elas brilham, fulgurantemente, entre as estrelas da moda européia, americana e asiática. Emanuela de Paula, Gracie Carvalho, Ana Bela e Samira Carvalho são negras e atualmente integram o time das supermodelos brasileiras de sucesso internacional.

Na São Paulo Fashion Week, 2009, Graciele Carvalho, a Gracie, foi, não sei por obra de qual santo milagreiro, uma das modelos mais requisitadas da temporada. A campineira de 19 anos pisou na passarela envergando trajes de 23 das 39 grifes que apresentarão suas coleções do verão 2010.

“No último Fashion Rio ela desfilou para 20 estilistas. Sou maratonista de semana de moda”, brinca a top, que atualmente mora em Nova York e acumula trabalhos importantes como as campanhas das marcas GAP e Donna Karan. Filha de uma cozinheira e de um mestre de obras, caçula de 17 irmãos, Gracie batalhou para entrar no mundo fashion. Aos 15, foi finalista de um concurso de beleza no interior paulista e, empolgada com o resultado, veio para a capital procurar uma agência de modelos. Ela começou a desfilar no Brasil, mas logo recebeu convite para trabalhar fora.

Gracie considera positiva a promessa da SPFW em incentivar as marcas a contratar 10% de modelos afro-descendentes (cotas? N´est pas possible!) . “Vai ser legal ver mais garotas negras nos desfiles. Isso vai ajudar muitas meninas em começo de carreira”, opina a moça, que também faz ressalvas. “O chato é que pode rolar um desconforto, os estilistas se sentindo obrigados a escalar as negras...”. Claro que vai gerar não apenas desconforto para os estilistas como para as garotas. Mas, se é preciso obrigar os estilistas a serem menos racistas, que se façam as cotas... que se abram as portas para as meninas negras.

Opinião semelhante tem a top pernambucana Emanuela de Paula. “Acredito que essa medida vai mudar um pouco a cabeça das pessoas. O Brasil é um país de tantas misturas, isso tem que aparecer na passarela”, avalia a modelo. “Espero que no futuro, os estilistas coloquem mais negras em seus desfiles por vontade própria”. É isso mesmo! Enquanto não se resolvem a deixar de lado a discriminação, que venha a lei e os obrigue a pôr a beleza e a elegância das nossas negras na passarela em condição de igualdade com as magricelas brancas.

Aos 20 anos, Emanuela tem um dos contratos mais rentáveis do mundo da moda: é um dos “anjos” da grife de lingerie Victoria’s Secret. Caçula no seleto grupo formado por musas como Alessandra Ambrosio, Adriana Lima e Karolina Kurkova, a pernambucana é conhecida como “baby angel”. Emanuela confessa que no começo foi meio difícil fotografar só de calcinha e sutiã. Depois adquiriu confiança e descontraiu . O clima nas sessões é alegre e as outras ‘angels’ me receberam de braços abertos”.

Se Borges foi o “padrinho” no mercado brasileiro, no internacional Emanuela teve outra ajuda poderosa: a de Anna Wintour. Em 2006, a editora da revista Vogue americana declarou que a brasileira era “a modelo da temporada”. O suficiente para torná-la modelos das mais procuradas. Por conta dos trabalhos no exterior, a top não participa do calendário nacional de desfiles este ano.

Quem andava sumida da passarela da SPFW por conta dos compromissos internacionais era a paulistana Ana Bela, de 24. Nesta edição do evento, a top fez questão de marcar presença nos desfiles.


Ana Bela é estrela de marcas de maquiagem famosas. “Adorei essa medida de apoio às modelos negras. Quero ser mais uma delas nesta temporada”, comemora a top, que estará no desfiles da Ellus, Reinaldo Lourenço, Glória Coelho e Huis Clos. “Este mês era para eu tirar férias, mas fiz questão de estar aqui, participando desse momento histórico”. Os traços africanos fortes, como os lábios carnudos e o sorriso marcante, fizeram de Ana Bela uma estrela de marcas de maquiagem. No Brasil, ela estreou como garota-propaganda da grife Contém 1 Grama e no exterior fez as campanhas da Revlon, M.A.C. e Bobbi Brown. “Não sei, acho que me acham uma ‘nega’ bonitinha”, diz a modelo, aos risos. “No início desfilava bastante. Hoje prefiro fazer mais fotos e comerciais, que dão mais grana”.

Ana Bela garante que nunca foi vítima de preconceito, nem perdeu trabalhos por conta de sua raça. “A única mudança que fiz foi no meu cabelo, que era bem ‘black’ e dava um baita trabalho para os cabeleireiros nos camarins. Eu mesma tomei a iniciativa de fazer um amaciamento”.
Estréia com Gisele


Outra representante das top models negras nesta SPFW é Samira Carvalho, de 20. Há três anos, a paulista de Piracicaba venceu um concurso de beleza promovido pela revista “Raça Brasil” e de lá não parou mais. Além de campanhas para grifes nacionais como Osklen, Cavalera e Melissa, Samira já tem currículo de veterana na moda internacional. Em 2007, ela abriu e fechou o desfile da estilista belga Diane Von Furstenberg e participou da temporada de mais importante do mundo fashion: a semana de alta-costura de Paris. “Nos primeiros anos, fazia mais comerciais de TV. Quando fui contratada pela agência Ford Models, eles direcionaram minha carreira para o fashion”, explica a moça.

Nesta edição da semana de moda paulistana, Samira desfilou para 13 estilistas. “Adoro trabalhar no Brasil. Mato a saudade da minha família e dos amigos”, conta a modelo, que atualmente não tem endereço fixo: passa temporadas em Nova York, Paris e Milão, conforme o fluxo de trabalhos.

A estréia nas passarelas aconteceu em grande estilo. “Desfilei junto com a Gisele pela Zoomp, na SPFW. Você não imagina o quanto eu fiquei emocionada!”. Apesar da admiração pela topmodel brasileira, Samira revela que se espelha em outra estrela da moda. “A Naomi Campbell é meu referencial maior, claro. Negra, linda e top”.

2 comentários:

Marise disse...

Sabe o que mais também aprecio nos negros? A voz! Que voz eles tem! É um dom divino, a bela cor e a bela voz. bjs

Andréia Santana disse...

Adorei a sua matéria a respeito das modelos negras, que realmente são belíssimas e muito pouco valorizadas aqui no nosso país.
Como mulher e negra te parabenizo pela lembrança, e pelo bom gosto nas fotos e nas belas palavras.Falo por mim e por muitas mulheres, que sentem falta de ver a beleza da mulher negra estampada, em sites, revistas, jornais, não apenas na época de euforia do carnaval, com o bumbum de fora se intitulando "mulata" (como se fosse uma profissão!!), mas as profissionais que trabalham esbanjando sua beleza elegantemente.bjs