3 de maio de 2011

Ainda bem que existe Glória Perez! Ainda bem!



Verdade, as emissoras de TV já não fazem novelas como faziam há anos atrás, quando elas eram a paixão nacional, vistas por todas as classes sociais com entusiasmo e persistência. Novelas inspiradas em obras de escritores de nomeada, como Eça de Queirós (O Primo Basílio, Os Maias), Julio Dinis (As pupilas do Senhor Reitor), Jorge Amado (Gabriela, cravo e canela, Tieta do Agreste) dentre outros, ou saídas da rica e fértil imaginação de Janete Clair, Ivanir Ribeiro, Dias Gomes, Maria Adelaide Amaral, Lauro César Muniz, Benedito Rui Barbosa, Walter Negrão e outros tantos que produziam esplendidas e apaixonantes telenovelas. Novelas que valiam a pena serem acompanhadas, que se tornavam o assunto palpitante no trabalho, nas rodas de amigos e nas ruas. A escreva Isaura e Gabriela, Cravo e Canela correram o mundo, encantando as mais diversas sociedades e pessoas de todas as idades. Em Portugal, tudo parava no horário em que exibiam Gabriela, Cravo e Canela, até o então Presidente Mario Soares parava para ver o capítulo imperdível da excelente trama.
Poisé, mas isto tudo são coisas passadas, perdidas no tempo, juntamente com muitos valores e princípios mais conservadores, hoje considerados ultrapassados. As novelas dos últimos anos, com raras e honrosas exceções estão se tornando cada vez mais medíocres, com tramas repetitivas, pobres, voltadas para o que há de mais sórdido, violento, depravado e lastimável na sociedade contemporânea, nas grandes cidades.  Não há mais enredos construtivos, histórias de amor que priorizem sentimentos profundos, que revelem a face luminosa das relações amorosas, que nos permitam viajar em momentos prazerosos de romantismo e de sonho.
Insensato Coração, a telenovela das 22 h, é a pior de todas que tenho visto. O nível da violência que transita prodigamente em cada capítulo é alarmante. As personagens, de ambos os sexos, são, em sua maioria, tipos de péssimo caráter, inescrupulosos, violentos, agressivos, sem a mínima noção de ética e de respeito pelos direitos do Outro, frios, calculistas e sem um pingo de dignidade. As cenas no presídio são mergulhos sufocantes no submundo do crime e da mais obscura miséria humana, com episódios de extrema violência, como o assassinato de uma presa vingativa e poderosa, com requintes de minúcias, desnecessariamente chocante.
A maldade dos vilões ou dos que se tornaram vilões, causa mal estar, especialmente quando praticada contra pessoas da própria família (pai, mãe, esposa, irmão), namoradas e amigos. A novela não passa de uma colcha de retalhos feita com crimes, roubos, traições, estelionato, mentiras, calúnias, adultérios, aviões que explodem, bandidagem, trapaças, um punhado de jovens piriguetes e muitas
vlgaridades sexuais (tipo BBB11).  E a trama, o enredo?  Bom, é melhor mudar de assunto...  Uma idéia aproximada seria um somatório de programas de Marcelo Resende sobre criminalidade, do programa do SBT Casos de Família, algumas cenas da terrificante Ribeirão do Tempo (Record) e doses cavalares de festinhas e piriguetagens do BBB11.
E a novela das 19 h.?  Ai, Jesus!  É muito ruim...  Será que as telenovelas da Record são melhores? Valha-me Deus! A última que consegui ver até o final foi “Essas Mulheres”, baseada em três romances de José de Alencar. A que se seguiu, abandonei por causa de uma viagem.  Ainda era uma interessante novela. As que vieram a seguir esbanjavam as cenas de violência e brutalidade. Ribeirão do Tempo, que eu via as cenas finais, enquanto esperava a edição de A Fazenda 3, Vi de tudo: O protagonista agarrando a própria mãe e beijando-a na boca, na força bruta, com o intuito de humilhá-la e desmoralizá-la. O mesmo agarrando a Tia e arrantando-a para um quarto, onde a apalpou e ameaçou de “dá-lhe um trato”, se esta falasse coisas sobre ele, além de estar de olho na enteada novinha. No mais era toda a sordidez do mundo do crime, da corrupção política, do estelionato, com sucessão de assassinatos, torturas e baixarias sexuais.
O espectador que já vive bombardeado por noticiários informando, quase sempre com exagerada freqüência, todo tipo de tragédia: tsunamis, enchentes, terremotos, crianças sendo abandonadas no lixo, crianças estupradas, assassinadas, mulheres surradas, roubalheiras em todos os escalões, bandidagem, trafico de drogas, prostituição infanto-juvenil, maníaco massacrando crianças na escola, assassinatos dentro da própria família, de filhos contra os pais, de pais contra filhos... Isto tudo, é carga pesada demais que temos que administrar em nosso emocional, já saturado, à beira do estresse.
Nestes termos, é insuportável ligar a TV para termos uns bons momentos de distração, de alívio das misérias que proliferam à nossa volta, e darmos de cara com a mesma violência das ruas, com as mesmas banalização do amor nas historinhas de amor fake de piriguetes deslumbradas de reality show ou de mocinhas chegadas à piranhagem, ao sexo casual e por ao vai...  Novela é diversão, Ou, pelo menos, deveria ser.  Já tivemos maravilhas da teledramaturgia durante anos seguidos.  
Que saudade das estupendas novelas da Rede Globo.  Ainda bem que ainda existe Glória Perez. Estou revendo O CLONE. Amo todos os trabalhos dessa estupenda telenovelista!



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